Força de vontade. Foi esse meu
pensamente durante a maratona de Glee que fiz esses dias. Sim, eu estava com
vários episódios atrasados. Sim, eu estava sem a mínima vontade de assisti-los.
Sim, tive que vim aqui escrever essa review, mais por respeito aos leitores e
ao blog, do que pela boa vontade. Afinal, quando você precisa de um mantra para
continuar vendo uma série, é porque tem alguma coisa errada.
Em Glee não só tem uma coisa
errada, têm várias. Antes de prosseguir gostaria de pedir perdão aos fãs mais
xiitas, e que ainda acreditam na série pelo meu tom, que pode parecer arrogante
e prepotente em algumas passagens. Por favor, não levem isso para o lado
pessoal, essa review é um desabafo e se eu me contiver demais não vou dizer o
que vim dizer aqui. Mais uma vez, me desculpem.
Eu me considerava um fã da série
e acreditei no potencial que ela tinha por um longo tempo. Na verdade eu ainda
acredito que Glee pode fazer maravilhas. Contudo,pelo caminho que vem sendo
adotado pela produção eu só vejo a série caminhando em direção a um desfiladeiro sem fim e
não dá para aturar isso sem por para fora toda minha revolta e o meu
descontentamento.
Isso não é de hoje. Muito pelo
contrário. Esse descontentamento vem desde a temporada passada, e tinha plenas
esperanças que a série pudesse se reergue. Depois da morte do Cory
(ironicamente) essa esperança foi renovada, porque era preciso fazer drásticas
mudanças na série, que acabará de perder seu protagonista. Contudo, a série
continuou no seu marasmo e Cory uma lembrança distante pendurada na sala do
coral.
Meu maior descontentamento com a
série é na questão narrativa. O enredo de Glee se resume em ciclos, em plot
repetidos e histórias recicladas. Uma série que nasceu inovadora torna-se um
insuportável clichê de si mesma. O ápice aconteceu na falsa gravidez da Bree.
Até o fato de um Puckerman tê-la engravidado foi um recurso reutilizado, como
aconteceu lá na primeira temporada.
Isso porque não falei do
triangulo amoroso sem sal formando por Marley, Jack e Ryder, que é a cópia de Finn, Quinn e Puck; Unique sofrendo
bullying por se vestir que nem uma mulher, lembra muito o drama já vivido pelo Kurt em temporadas anteriores. Glee se tornou uma série parada no
tempo, que repete “fórmulas de sucesso”. É como se ela sofresse da síndrome do
Peter Pam e tivesse medo de crescer, de abordar novos arcos, novas histórias.
Enfim, de evoluir, de crescer e ser uma série inovadora, mostrando gente talentosa,
com um roteiro afiado e pertinente. Essa é a Glee que eu amo, que eu gostaria
de ver novamente no ar, mas minhas esperanças foram pelo ralo.
No entanto, a série ainda traz
consigo algumas coisas boas. Não posso deixar de elogiar as falas de Sue que
são sempre brilhantes. Não sei se é mais pela atriz, que faz um excelente
trabalho, ou se é mesmo pelo roteiristas, que devem dedicar 90% do processo
criativo pensando em performances, do que trabalhando no enredo e nos diálogos
dos personagens.Sue atinge seu ápice nesses últimos episódio querendo aparentar mais feminilidade.
É como se a personagem fizesse uma crítica a tudo aquilo que ela é contra (incluindo saia, maquiagem e salto alto), apenas para chamar a atenção de um homem. Confesso que foi estranho ver Sue de vestido e falando manso, mas rapidinho consegui entender a proposta do roteiro. Não há nada pior que perdesse a si mesmo em detrimento dos outros. São lições como esta que Glee deveria ensinar mais vezes. Os personagens estão ali, os problemas, os conflitos também. Só falta a massa cefálica dos roteiristas trabalhar para eles construírem uma trama com enredo digno de série.
O núcleo de Nova York não é de
todo ruim. Gosto da dinâmica do grupo, mas ela é pouco explorada. Gostei da
ideia da banda, mesmo não entendo o que Pamela Lansburg representa. Como já disse antes, todas as possibilidades que NY apresenta são más exploradas. Demi Lovato é uma delas. A triz e talentosíssima cantora foi cotada para fazer um arco de seis episódios e toda
vez que ela aparece em cena é um desperdício. A mesma coisa acontece com o Adam Lambert. Não entendo como uma série com tanta gente talentosa não aproveita as
chances e as possibilidades que isso oferece.
É por causa disso que fui contra
a decisão do roteiro de transformar a Rachel na próxima Funny Girl. Isso é
completamente dentro dos padrões, dentro da zona de conforto da série. Não há
muita novidade, nem muita possibilidade dramáticas para explorar nesse
contexto. Rachel continua sendo uma filhinha de papai, que tem uma vida
excelente em Nova York. Não sei o porquê ela trabalha como assistente do papai
Noel num shopping ou como garçonete num bar, pois definitivamente ela não
precisa daquele dinheiro para viver.
O papai noel sexy logo percebeu isso, e viu na ingenuidade daquelas "crianças" a possibilidade de faturar. Quero ver os personagens tendo que enfrentar seus dilemas, tendo problemas de gente real e não vivendo uma fantasia. A dramaturgia nasce na necessidade de ir além, de crescer, evoluir. Poucos são aqueles que podem pagar um bom lugar, na verdade um ótimo lugar, com bastante espaço e lindamente decorado. Esperava que o núcleo de NY fosse mais como Girls, produção da HBO. Talvez sem tanto sexo, mas isso é apenas um bônus.
Talvez eu esteja transferindo minhas próprias expectativas para a série, esperando que ela seja algo que ela não é. Talvez tenha um pouco disso. Mas quando a gente gosta de alguma coisa a gente torce para que ela dê certo. Glee ainda consegue se sustentar com boas músicas fora do contexto e um drama de pouca categoria, mas isso não sustenta uma série por muito tempo. Veteranas como Grey's Anatomy, não conseguiram chegar até a 10ª temporada fazendo draminha, foi fazendo dramão. Quem acompanha a série sabe que muitas vezes ela arriscou muita coisa em prol de uma história para contar, uma história que fizesse os telespectadores se sentirem parte daquilo. É coisas assim que eu sinto falta em Glee.
E por mais que às vezes eu me pegue sonhando em ser artista, em cantar, dançar e atuar, os caminhos não são fáceis. Eu não vou para NY estudar numas das melhores faculdades do mundo no âmbito das artes cênicas e morar num lugar massa. A realidade é bem mais dura. É preciso trabalhar muito para chegar lá. É preciso desistir de coisas, desapegar. Rachel, Kurt e Samanta ainda são muito apegados ao Glee Club da escola e a tramas bobas e adolescentes. É hora de crescer!
No grupo de Coral a coisa não é
muito diferente. Apesar do bullying, e das diferenças que cada membro tem nem
todos tem a possibilidade de brilhar. Não me lembro da última vez que Ryder
teve um solo. A história da personagem tinha tanta dramaticidade, mas acabou
ficando esquecido, como os personagens que acabam ficando no fundinho e
fazendo o coro e que depois somem do nada, sem nenhuma justificativa.
Eu acho uma injustiça quando o
Blaine é premiado com solos em quase todos os episódios. Nos últimos ele não
pode ter ganhado tanto destaque como antes, mas isso foi um reflexo da
reclamação dos fãs da série. Vi muita gente reclamando que Blaine cantava em TODO episódio, pelo menos uma vez. O roteiro até brincou com isso no episódio de
Natal quando todos do Glee Club mandaram Blaine calar a boca. Confesso que me
senti representado, pois tanta e tantas vezes tive vontade de dizer isso e o
máximo que eu poderia fazer era avançar toda a performance e ir para a próxima
cena.
Gente, alguém pode me dizer, por
favor, qual a função daquele episódio dos bonecos? Foi ridículo. Não me
surpreendeu que a série tenha atingido seu pior índice de audiência (0.9 da
DEMO). O episódio não acrescentou nada, e nem foi engraçado. Um desperdício de
recursos e de tempo, afinal poderia ter gasto 40 e poucos minutos vendo outra
coisa.
Espero com que com essa audiência
baixa, dê aos produtores motivos para decidirem o que vão fazer com a série. Pelo
que consta, Glee tem até a sexta temporada garantida. Dependendo de como ela ande a próxima pode ser a última temporada da série, mas não deixo de lado a possibilidade da FOX
querer um spin-off de Rachel em NY, afinal a tendência para séries derivadas de
outras está em alta.
Bem, acho que me alonguei demais
e já disse muito do que queria dizer. Claro que ainda há outros pontos que
gostaria de dividir com vocês, mas deixo em aberto para outras oportunidades.
Provavelmente em 2014 você não contará mais com reviews semanais de Glee. Bom,
pelo menos não feitas por mim. É com muita tristeza que deixo a série, mas está
na hora de explorar coisas novas e não quero estar ligado a algo que não me
acrescenta em nada e nem me leva a lugar nenhum. Mas se você ainda vê uma
esperança em Glee e quiser resenhar a série no Crossover, por favor, nos envie
um e-mail ou entre em contato com a gente através da nossa fã Page.
Para finalizar gostaria de dizer
a vocês para nunca desistirem dos seus sonhos. Esse foi uns dos ensinamentos
mais importantes que eu aprendi com Glee e que vou levar comigo para o resto da
minha vida, pois apesar de andar mal, a série tem um espaço garantido no meu
coração e na minha memória, e isso roteiro ruim nenhum no mundo pode destruir.
Boas Festas e um excelente 2014 para todos.
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